As plantas alimentícias não convencionais podem ser usadas em saladas, sucos, refogados, sopas e farinhas nutritivas
Dos quintais para as mesas e para a internet. A utilização de plantas alimentícias não convencionais (Pancs) inspirou o lançamento do e-book “Receitas – Alimentos oriundos dos quintais produtivos”, elaborado por ecoagentes da comunidade Tombador, na cidade baiana de Alagoinhas. A iniciativa faz parte do projeto Ecomunidade, realizado há 4 anos pela Bracell. A ideia para o livro surgiu durante uma oficina de culinária realizada pelos moradores a partir de alimentos produzidos nos quintais produtivos, incluindo as Pancs, que podem ser consumidas como saladas, sucos, refogados, sopas e farinhas nutritivas, dentre outras maneiras.
A publicação, com 18 páginas, traz receitas como moqueca de coração da bananeira, chaya refogada, bredo no coco e biomassa de banana verde, extrato de tomate caseiro e suco de limão com hortelã. As dicas incluem uso de vegetais como taioba, flor de abóbora e ora-pro-nóbis. Parte das Pancs usadas no preparo de receitas do livro é colhida nas áreas do sistema agroflorestal (SAF), implantado no Tombador com apoio técnico da Bracell. Essas plantas, na maioria, são rústicas e resistentes, não necessitam de grandes cuidados e podem ser cultivadas em quintais, jardins e hortas escolares.
“Antes, algumas Pancs eram até vistas como ervas daninhas e as pessoas achavam que elas tinham toxinas e causavam mal à saúde. Mas, quando a gente tem conhecimento e sabe os benefícios, vai repassando as informações e ajudando a retomar o uso na alimentação, já que são plantas com poder nutritivo excepcional”, explica a ecoagente Gilmara Lima Santos.
Ela acredita que essas ervas foram sendo esquecidas aos poucos, à medida que os moradores tiveram mais acesso aos alimentos industrializados. “Estamos resgatando a tradição de usar as Pancs, hortaliças e temperos disponíveis nos quintais, ao invés de comprar molhos e temperos prontos e cheios de químicos. A gente diz: produza, compre só o básico, porque é possível, sim, se alimentar de maneira muito mais saudável”, diz.
Gilmara ainda destaca que é importante compartilhar receitas com essas plantas por causa do seu alto valor nutricional. “Algumas delas têm maiores quantidades de minerais, fibras, antioxidantes e proteínas do que alguns vegetais tradicionalmente consumidos no dia a dia”, completa Gilmara.
Pesquisa
De certa forma, as dificuldades financeiras impostas pela pandemia impulsionaram a busca por fontes alternativas de alimentos na zona rural. Foi aí que os ecoagentes iniciaram a pesquisa sobre as plantas alimentícias. “Adaptamos receitas antigas, com novos ingredientes. Pegamos informações com pessoas mais velhas na comunidade, consultamos livros e fomos seguindo o passo a passo com ideias e criatividade de todo mundo e funcionou. Todo mundo gostou”, conta Gilmara. A ação deu tão certo que o grupo já reuniu receitas suficientes para um segundo e-book.
Além do livro, juntamente com a monitora do Ecomunidade, surgiu a ideia das oficinas de culinária e de publicar o e-book para compartilhar as receitas com mais pessoas da zona rural, por aplicativos de conversa. A iniciativa tem tudo a ver com os objetivos do projeto. “Somos um grupo de moradores que atua como agentes multiplicadores de ações que defendem causas importantes, a exemplo da preservação do meio ambiente e do rio Tombador, da qualidade de vida, da valorização da agricultura familiar, da promoção de lazer e bem-estar para as crianças e de todas as práticas que dignificam o ser cidadão”, explicam os autores no livro.
Ecomunidade
Idealizado pela Bracell, o projeto forma moradores das comunidades para atuarem como ecoagentes, oferecendo suporte e monitoramento à realização de ações e projetos socioambientais nas localidades de influência da empresa. A proposta é estimular a disseminação de informações por meio do trabalho qualificado em rede, despertando o olhar crítico e incentivando a realização de ações de cunho socioambiental como forma de contribuir com seus territórios no que diz respeito à preservação ambiental, destinação correta de resíduos e melhoria da qualidade de vida da população local.
Em 2021, o Ecomunidade formou 66 ecoagentes, de seis comunidades nos municípios de Alagoinhas, Entre Rios e Itanagra e suas ações envolveram a participação de mais de 260 moradores locais.